Rock Analisa #002: Trégua Comercial EUA x China: O Que Muda para a Economia Global e o Brasil?
- Cleber Lourenço Rocha
- 13 de mai.
- 3 min de leitura
Acordo de 90 dias reacende o otimismo nos mercados e pode gerar efeitos relevantes para exportadores brasileiros
Na última terça-feira (13), os Estados Unidos e a China anunciaram uma trégua comercial de 90 dias, na qual ambos os países se comprometeram a reduzir temporariamente tarifas de importação. O governo norte-americano vai cortar suas tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto Pequim reduzirá as suas de 125% para 10% sobre bens norte-americanos. O gesto, considerado um sinal de retomada do diálogo bilateral, foi bem recebido pelos mercados internacionais.
Mas, além do alívio imediato nas bolsas, quais são os impactos potenciais dessa trégua para a economia global — e, principalmente, para o Brasil?
O que está em jogo com essa trégua?
A disputa comercial entre EUA e China, iniciada em 2018, provocou distorções em cadeias globais de suprimento, aumento de custos para indústrias e perda de competitividade em vários setores. A recente trégua não representa um acordo definitivo, mas abre espaço para novas rodadas de negociação, criando um ambiente menos turbulento para o comércio global — ao menos no curto prazo.
Essa movimentação reduz riscos geopolíticos e melhora a previsibilidade nos mercados, o que tende a beneficiar países emergentes, como o Brasil, que dependem do fluxo de capital externo e de estabilidade internacional para atrair investimentos.
Impactos esperados para a economia global
1. Aumento no comércio internacional: Com tarifas mais baixas, espera-se uma reativação do fluxo de bens entre EUA e China, o que pode ajudar na recuperação de setores industriais e no crescimento global, que vinha perdendo força.
2. Redução da pressão inflacionária global: Menores tarifas significam produtos mais baratos circulando no mercado internacional. Isso pode ajudar no controle da inflação, especialmente em países desenvolvidos, que vêm enfrentando pressões nos preços desde a pandemia.
3. Melhora na confiança dos investidores: A trégua tende a diminuir a aversão ao risco e reabrir o apetite por ativos emergentes. Com isso, bolsas de países em desenvolvimento, moedas locais e títulos de dívida podem se beneficiar com entradas de capital estrangeiro.
E o Brasil, como entra nessa equação?
1. Mais espaço para exportações brasileiras: Com EUA e China voltando a negociar diretamente, é possível que a demanda chinesa por produtos de países terceiros — como o Brasil — sofra uma leve desaceleração. Porém, em setores onde o Brasil é altamente competitivo, como o agronegócio, ainda há espaço para crescimento.
Além disso, se a economia chinesa voltar a acelerar, a demanda por commodities agrícolas e minerais pode aumentar, o que seria positivo para os exportadores brasileiros de soja, minério de ferro e petróleo.
2. Variação nos preços das commodities: O alívio nas tensões comerciais tende a pressionar positivamente os preços internacionais das commodities. Isso impacta diretamente a balança comercial brasileira e pode gerar ganhos adicionais para empresas do setor de mineração e agroindústria listadas na bolsa.
3. Estímulo ao investimento estrangeiro: Com o ambiente global mais calmo, investidores estrangeiros podem voltar a olhar com mais atenção para mercados como o brasileiro. Mesmo com a Selic elevada, a previsibilidade econômica e oportunidades em setores estratégicos (como infraestrutura e energia) podem atrair aportes.
4. Pressão cambial pode diminuir: A valorização do real observada nesta semana está em parte ligada a esse contexto global mais favorável. Se o dólar se enfraquecer diante de outras moedas, o real tende a se beneficiar, o que ajuda a reduzir a inflação de bens importados.
Riscos ainda presentes
Apesar do clima mais ameno, os riscos não foram totalmente eliminados. A trégua tem prazo de validade — 90 dias — e depende de boa vontade política de ambas as potências para que avanços reais aconteçam. Caso as conversas fracassem, as tarifas podem ser reativadas, reacendendo a incerteza.
Além disso, o cenário geopolítico permanece tenso, com conflitos no Oriente Médio e a guerra na Ucrânia ainda em curso. A volatilidade continua sendo uma variável relevante para os investidores.
Conclusão
A trégua comercial entre EUA e China é uma boa notícia para os mercados, para a estabilidade internacional e também para o Brasil, que se beneficia diretamente de um comércio global mais aquecido. O movimento pode ajudar a conter a inflação internacional, melhorar os preços das commodities e atrair mais investimentos para países emergentes.
No entanto, é preciso cautela. A janela de 90 dias é curta, e o histórico de impasses entre as duas potências não permite euforia antecipada. Ainda assim, para o investidor atento, esse momento pode oferecer boas oportunidades — desde que com análise estratégica e diversificação.
Resumo do Dia
EUA e China anunciam trégua de 90 dias e reduzem tarifas sobre produtos.
Alívio nas tensões impulsiona bolsas e melhora a confiança global.
Brasil pode se beneficiar com alta nas commodities e fluxo de capital estrangeiro.
Riscos ainda existem: guerra na Ucrânia, Oriente Médio e incertezas políticas permanecem no radar.


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